O que os comunistas defendem?

Comunistas


Os comunistas não surgem como mais um partido entre os muitos que compõem o espectro da classe trabalhadora. Eles não defendem interesses particulares ou próprios, mas sim os interesses gerais de todos os trabalhadores. Não tentam impor nenhuma doutrina inventada ou teoria abstrata. Eles se guiam pela realidade concreta da luta de classes, por aquilo que já está acontecendo no mundo material.

O que os diferencia dos outros grupos é o fato de que, enquanto outros se perdem em questões locais ou nacionais, os comunistas olham para o quadro geral. Pensam de forma internacional, enxergam os pontos em comum da luta operária, estejam os trabalhadores na Alemanha, na França ou em qualquer outro lugar. E mais que isso, eles compreendem com profundidade o movimento histórico dessa luta entre capitalistas e trabalhadores. Têm uma clareza teórica que lhes permite ver os caminhos e os resultados dessa batalha.

O objetivo imediato dos comunistas não difere do objetivo de qualquer trabalhador consciente: organizar a classe operária, derrubar o poder da burguesia e conquistar o poder político para que os trabalhadores possam construir uma nova sociedade.

Mas o que fundamenta as ideias comunistas? São invenções?

Não. As ideias comunistas não foram criadas num gabinete por teóricos isolados do mundo. Elas são fruto da observação das relações reais da sociedade. São a expressão teórica do conflito entre exploradores e explorados, entre quem detém os meios de produção e quem só possui sua força de trabalho para sobreviver.

A abolição da propriedade privada burguesa, a base do comunismo, não é algo arbitrário. Trata-se de uma consequência lógica do próprio desenvolvimento histórico. A história sempre foi marcada por mudanças nas formas de propriedade. A Revolução Francesa, por exemplo, acabou com a propriedade feudal para dar lugar à propriedade burguesa. Agora, o passo seguinte é transformar essa propriedade burguesa em algo novo, que não dependa da exploração.

A propriedade privada é injusta? E a propriedade do pequeno trabalhador?

Quando os comunistas falam em abolir a propriedade privada, estão se referindo à propriedade burguesa. Aquela que se baseia na exploração do trabalho de outros. Não estamos falando da pequena propriedade do camponês ou do artesão, que já foi eliminada, pouco a pouco, pelo avanço da indústria.

E quando se trata do trabalhador assalariado moderno, a verdade é ainda mais crua: ele não é dono de nada. O que ele produz não gera para si uma propriedade real, mas sim para o patrão. Ele vive para sustentar o capital, não para viver com dignidade. A tal liberdade de “ganhar o próprio sustento” se resume a manter a máquina funcionando, máquina essa que pertence a outro.

E o capital? O que ele representa?

O capital não é apenas dinheiro ou propriedade. É um poder social, um produto coletivo, movimentado por muitas pessoas. Quando se diz que o capital deve ser transformado em propriedade coletiva, não se está falando em eliminar a propriedade pessoal no sentido de bens individuais, mas em retirar dela seu caráter de classe.

O capital hoje dá poder a poucos sobre o trabalho de muitos. O comunismo busca romper essa lógica: que o trabalho acumulado (ou seja, os bens, as máquinas, o conhecimento) sirva ao bem-estar de todos e não para enriquecer uns poucos.

Isso não seria uma forma de acabar com a liberdade?


A burguesia se apega a uma ideia de liberdade que está presa ao comércio e à propriedade. Mas essa liberdade é ilusória: ela só existe para quem tem capital. Para a maioria da população, liberdade significa apenas escolher entre diferentes formas de ser explorado.

Os comunistas querem abolir essa falsa liberdade. Não querem acabar com a individualidade, mas sim com a dominação de classe que a impede de florescer de verdade. Quando se diz que os comunistas querem acabar com a “liberdade”, o que está se dizendo é que querem acabar com a liberdade dos burgueses de explorar.

E quanto à cultura, à moral, à religião?

Todas essas ideias que nos parecem eternas, como moral, justiça, propriedade, religião, são, na verdade, produtos de uma sociedade específica. Elas nascem das condições materiais e dos interesses das classes dominantes de cada época.

A moral da sociedade atual é a moral burguesa. A cultura exaltada é a cultura da elite. A religião, muitas vezes, funciona como forma de justificar a submissão. O comunismo não elimina ideias por capricho, mas porque a nova sociedade que propõe exige uma nova forma de pensar, de sentir e de agir. As ideias dominantes de uma época são sempre as ideias da classe dominante. Quando essa classe cai, suas ideias também perdem o chão.

E a família? Os comunistas querem acabar com ela?

A crítica aqui é direta: a família burguesa, aquela baseada na propriedade e no poder do homem sobre a mulher e os filhos, não é sagrada nem natural. Ela só é possível porque existe a exploração. O trabalhador mal consegue sustentar a própria família, enquanto a burguesia transforma mulheres e crianças em instrumentos de lucro.

Os comunistas não querem destruir os laços afetivos. Querem, sim, acabar com o modelo de família baseado na desigualdade e na hipocrisia. Não são os comunistas que promovem a “comunidade de mulheres”, mas sim a própria sociedade burguesa, com sua prostituição oficial e oficiosa, com seus casamentos por interesse, com sua moral dupla.

E quanto à pátria, à nacionalidade?


Os trabalhadores não têm pátria. Eles não possuem nada que os prenda a uma nação, pois são explorados onde quer que estejam. O nacionalismo, na forma como é usado pela burguesia, serve apenas para dividir a classe trabalhadora e proteger os interesses do capital.

Os comunistas defendem a união internacional dos trabalhadores. Sabem que a exploração entre nações reflete a mesma lógica da exploração entre classes. Por isso, a libertação do proletariado só pode ocorrer se ultrapassar fronteiras.

Mas e as acusações filosóficas e morais contra o comunismo?

Muitos argumentam que o comunismo quer destruir valores eternos, como a justiça ou a liberdade. Mas a história mostra que esses valores sempre mudaram conforme as condições materiais de cada época.

A liberdade feudal não é a mesma da burguesia. O que hoje se chama de liberdade não será o mesmo numa sociedade futura. A ideia de que existem verdades imutáveis é parte do discurso das classes dominantes, que querem fazer parecer naturais suas próprias regras.

A revolução comunista rompe com essas ilusões, assim como rompe com as estruturas que as sustentam. É a ruptura mais profunda já proposta na história da humanidade, pois atinge não só a economia, mas também a forma de pensar.

O que fazer para transformar essa sociedade?

O primeiro passo da revolução comunista é simples: colocar o proletariado no poder. Isso significa que os trabalhadores organizados devem se tornar a classe dominante, usar esse poder para retirar gradualmente os meios de produção da burguesia e colocá-los nas mãos da coletividade.

Esse processo exige medidas firmes, que podem parecer duras ou utópicas à primeira vista, mas necessárias para mudar radicalmente o sistema:

Expropriar as terras e usar os lucros em benefício do povo.


Criar impostos progressivos para redistribuir riqueza.


Acabar com o direito de herança, que perpetua privilégios.


Confiscar os bens de quem se opõe violentamente à revolução.

Centralizar o sistema bancário nas mãos do Estado.

Controlar os transportes coletivos e infraestrutura.

Expandir fábricas e a produção de forma planejada.


Garantir trabalho para todos, inclusive com exércitos industriais agrícolas.

Unificar o campo e a cidade, superando desigualdades regionais.


Oferecer educação pública, gratuita e integrada ao trabalho.

E depois disso?


Com o tempo, essas medidas dissolverão as diferenças entre as classes sociais. O Estado, que hoje é o instrumento de dominação de uma classe sobre a outra, deixará de existir como tal. Quando não houver mais classes para oprimir, o poder político, como conhecemos, perderá sua razão de ser. No lugar dessa sociedade dividida e opressora, surgirá uma nova forma de convivência humana. Uma sociedade em que o desenvolvimento de cada indivíduo se tornará a base do progresso de todos. Onde a liberdade não será um privilégio, mas uma condição universal. 


Manifesto do Partido Comunista
Autores: Karl Marx e Friedrich Engels
Ano de publicação original: 1848
Fonte: https://www.marxists.org/portugues/marx/1848/ManifestoDoPartidoComunista/index.htm

Resumo: “O Estado e a Revolução” de Lenin

 


 A obra de Lenin intitulada “O Estado e a Revolução” é uma das mais importantes para os marxistas, nele Lenin discute a teoria marxista do Estado e as tarefas do proletariado na revolução. Ele argumenta que o papel do Estado como um instrumento de opressão de uma classe, e o proletariado deve derrubar o Estado burguês e construir um novo tipo de Estado socialista. É explorada a experiência da Comuna de Paris e critica os oportunistas que distorceram o marxismo. O livro deve ser lido e analisado, aqui vai apenas um resumo de importantes tópicos para podermos entender o posicionamento de Lenin.

As classes sociais e o Estado

Nesta parte da obra, Lenin argumenta que o Estado não é uma entidade que surge arbitrariamente ou por decisões humanas isoladas. É, ao contrário, um produto da sociedade em um determinado estágio de seu desenvolvimento, quando esta se encontra dividida em classes com interesses irreconciliavelmente opostos. Nesse contexto, o Estado surge como uma força aparentemente acima da sociedade, com o propósito de moderar o conflito e manter a "ordem", protegendo os interesses da classe dominante. De acordo com Lenin, o Estado serve como um instrumento de dominação de classe, um meio pelo qual uma classe impõe sua vontade sobre outra. Ele rejeita veementemente a noção burguesa e pequeno-burguesa de que o Estado poderia ser um órgão para a conciliação de classes.

Para Lenin, a existência do Estado é uma prova de que os interesses de classes distintas são inconciliáveis e que o Estado, em sua essência, é uma ferramenta para a manutenção da dominação e exploração de uma classe sobre outra. Além disso, ele critica os ideólogos burgueses e pequeno-burgueses que tentam distorcer o marxismo para apresentar o Estado como um mediador neutro nas disputas de classe. Ele expõe como essa interpretação deturpada serve aos interesses da burguesia, mascarando a verdadeira natureza do Estado como um instrumento de opressão da classe trabalhadora.

A conclusão de Lenin é que a única maneira de abolir a exploração e opressão inerentes ao Estado burguês é por meio de uma revolução proletária. O proletariado, sendo a única classe verdadeiramente revolucionária, deve derrubar o Estado burguês e estabelecer um Estado proletário que, eventualmente, levará ao definhamento do próprio conceito de Estado à medida que a sociedade avança para o comunismo.

Experiência de 1848-1851

Lenin reflete sobre um período significativo na história das revoluções e do pensamento marxista.  A experiência de 1848-1851 refere-se a uma série de revoluções que ocorreram em vários países europeus, abrangendo um espectro amplo de demandas e ideologias, desde reformas liberais até a luta por independência nacional e reivindicações socialistas. Estes eventos marcaram uma época de intensa agitação política e social, na qual as massas se levantaram contra as estruturas monárquicas e a dominação aristocrática, buscando liberdades políticas e uma reorganização da sociedade.

Durante e após esses eventos, Karl Marx analisou as causas, o desenvolvimento e as consequências das revoluções de 1848-1851, destacando a luta de classes como motor da história e da revolução. Marx observou a incapacidade das classes dominantes de manter sua hegemonia e a crescente força do proletariado e de outras camadas oprimidas da sociedade, embora também tenha criticado a falta de preparo e de unidade entre as forças revolucionárias. A experiência de 1848-1851 ilustrou, na visão marxista, a natureza do Estado como um instrumento de opressão nas mãos da classe dominante. As revoluções evidenciaram a necessidade de uma transformação radical que não apenas mudasse quem detinha o poder, mas que reconfigurasse a estrutura do próprio Estado, para servir aos interesses do proletariado e não da burguesia.

Lenin, ao refletir sobre essa época, reforça a importância das análises de Marx, argumentando que as revoluções falharam por não conseguirem derrubar completamente as velhas estruturas do Estado e por subestimarem a necessidade de um partido revolucionário bem organizado, capaz de liderar o proletariado à vitória. Ele enfatiza que a experiência mostrou a importância da destruição do Estado burguês e da construção de um Estado proletário como pré-requisitos para a construção do socialismo.

A experiência das revoluções de 1848-1851 permanece um estudo crucial para compreender a dinâmica entre as classes sociais e o Estado, bem como os desafios enfrentados pelas forças revolucionárias. Para Lenin, esses eventos forneceram lições valiosas sobre a necessidade de uma abordagem revolucionária mais rigorosa e sobre a importância da liderança política consciente e organizada no processo de transformação social.

A experiência da Comuna de Paris (1871)

A Comuna de Paris, ocorrida em 1871, foi uma importante insurreição popular e uma das primeiras tentativas de estabelecer um governo operário e socialista. Após o descontentamento com o governo francês e a derrota na guerra contra a Prússia, os trabalhadores e cidadãos de Paris se revoltaram, estabelecendo uma forma de governo que buscava ser mais inclusiva e representativa dos interesses das classes trabalhadoras. Durante seu breve período de existência, a Comuna implementou várias reformas progressistas, como a separação da Igreja e do Estado, a implementação de medidas de bem-estar social e a reorganização da administração pública para ser mais acessível aos cidadãos comuns. A Comuna também tentou reestruturar a sociedade de maneira mais equitativa, enfatizando a autogestão e a democracia direta.

Lenin viu a Comuna de Paris como uma confirmação prática das ideias marxistas sobre o Estado e a revolução. Ele argumentou que a Comuna demonstrou a possibilidade e a necessidade de o proletariado derrubar o Estado burguês e instituir suas próprias estruturas de poder, que seriam fundamentais para a construção de uma sociedade socialista.  A partir da experiência da Comuna, Lenin extraiu lições importantes sobre a natureza do Estado e a estratégia revolucionária. Ele destacou a coragem e a iniciativa revolucionária dos comunardos, mas também apontou erros estratégicos, como a falha em atacar o Banco da França, o que poderia ter fortalecido a posição financeira da Comuna e dado mais sustentação à revolução.

A Comuna de Paris deixou um legado duradouro nas teorias e práticas revolucionárias subsequentes. Então Lenin conclui que, ela representou um marco na luta pela abolição do Estado burguês e pela criação de um Estado proletário, apesar de suas limitações e do desfecho trágico. A Comuna serviu como um exemplo tanto das potencialidades quanto dos desafios enfrentados pelo movimento revolucionário proletário.

Esclarecimentos complementares de Engels

Friedrich Engels, colaborador de longa data e coautor de várias obras com Karl Marx, desempenhou um papel crucial na elaboração e no desenvolvimento da teoria marxista, incluindo a análise do Estado. Os "Esclarecimentos complementares de Engels" provavelmente referem-se a suas contribuições teóricas que visam esclarecer e expandir a compreensão do Estado e da revolução sob a perspectiva marxista, abordando lacunas ou mal-entendidos decorrentes das interpretações de suas obras anteriores. Engels aprofundou a análise marxista do Estado, enfatizando seu papel como instrumento de dominação de classe. Ele discutiu como o Estado emerge nas sociedades divididas em classes como um poder supostamente neutro destinado a moderar os conflitos de classe, mas que, na realidade, serve aos interesses da classe dominante. Seus esclarecimentos ajudam a entender melhor a natureza transitória do Estado e a necessidade de sua superação na transição para uma sociedade comunista.

Um dos focos dos esclarecimentos de Engels foi a crítica às abordagens reformistas e idealistas que não reconheciam a necessidade de uma ruptura radical com o Estado burguês. Engels argumentava que reformas pontuais dentro da estrutura do Estado capitalista não seriam suficientes para abolir as relações de exploração, reiterando a necessidade de uma revolução proletária. Nos seus esclarecimentos, Engels provavelmente abordou aspectos práticos da luta de classes e da estratégia revolucionária, enfatizando a importância da organização política do proletariado e da conquista do poder político. Ele pode ter discutido as condições sob as quais o Estado proletário poderia surgir e operar, visando a gradual abolição de todas as formas de opressão e exploração.

Os esclarecimentos complementares de Engels continuam sendo fundamentais para o entendimento do marxismo e da teoria do Estado. Eles não só enriquecem a compreensão das dinâmicas de poder nas sociedades capitalistas, como também orientam as gerações subsequentes de teóricos e ativistas na busca por uma sociedade mais justa e igualitária.

As condições econômicas do definhamento do Estado

Segundo a teoria marxista-leninista, o Estado é uma instituição destinada a resolver os conflitos inerentes às sociedades divididas em classes. Com a eliminação das classes sociais — um objetivo central do socialismo —, o Estado perde sua razão de ser e começa a definhar. Para Lenin, esse processo está intrinsecamente ligado às condições econômicas, visto que as relações econômicas são a base sobre a qual as classes e o Estado são construídos. Lenin argumenta que, durante a transição do capitalismo ao socialismo, o controle proletário sobre o Estado e a economia deve resultar na abolição progressiva das classes sociais. Isso é conseguido através da coletivização dos meios de produção e da distribuição dos bens com base na necessidade, em contraposição à produção e distribuição baseadas no lucro.

Para que o Estado definha, é necessária uma reorganização econômica que elimine a exploração do homem pelo homem, garantindo que a produção atenda às necessidades da população e não aos interesses de uma classe dominante. Isso envolve não apenas mudanças na propriedade e na produção, mas também uma transformação nas relações de trabalho, tornando-as mais colaborativas e menos hierárquicas. Além das mudanças econômicas, o definhamento do Estado requer um aumento na consciência social e política da população. Isso é alcançado por meio da educação e da participação ativa das massas no governo, o que ajuda a dissipar a alienação política e a fomentar um senso de responsabilidade coletiva pelas decisões econômicas e sociais.

Na visão de Lenin, o resultado final do processo de definhamento do Estado é uma sociedade comunista, onde o Estado é substituído pela administração autônoma das coisas. Nesse estágio, as funções administrativas não requerem uma classe especial para governar, e as decisões são tomadas com base na participação direta da população, refletindo a verdadeira democracia e liberdade.

Aviltamento do marxismo pelos oportunistas

Lenin critica fortemente os oportunistas que, segundo ele, distorcem e degradam os princípios marxistas para acomodar interesses pessoais ou de grupo que são incompatíveis com os objetivos revolucionários do marxismo. Esse aviltamento é visto como uma tentativa de conciliar o marxismo com a ideologia e práticas da burguesia, diluindo sua natureza revolucionária e transformadora. O oportunismo é caracterizado pela adoção de posturas e políticas que, embora apresentem uma fachada de progressismo ou esquerdismo, na prática, traem os princípios fundamentais do marxismo. Os oportunistas são acusados de sacrificar a teoria e os objetivos de longo prazo do socialismo em favor de ganhos imediatistas ou de aceitação dentro do sistema capitalista existente.

Para Lenin, o aviltamento do marxismo pelos oportunistas tem consequências desastrosas para o movimento revolucionário. Ele enfraquece a luta de classes, cria confusão ideológica entre os trabalhadores e militantes, e pode desviar o movimento operário de seu curso revolucionário, comprometendo a possibilidade de derrubar o capitalismo e construir uma sociedade socialista. Uma das principais formas de aviltamento apontadas por Lenin é a tendência de alguns marxistas de fazer concessões ao reformismo, aceitando a possibilidade de uma transição gradual e pacífica para o socialismo dentro das estruturas do Estado burguês. Ele argumenta que isso representa uma negação fundamental da necessidade de uma ruptura revolucionária com o capitalismo.  Em contraposição ao oportunismo,

Lenin enfatiza a importância de manter a pureza e a integridade do marxismo. Para ele, é essencial resistir a quaisquer distorções ou diluições da teoria e prática marxista, assegurando que o movimento revolucionário permaneça fiel aos seus princípios fundamentais e objetivos transformadores.

Por quê devo ler esta obra?

 "O Estado e a Revolução" de Lenin é uma obra crítica que aborda profundamente a natureza do Estado e o papel das classes sociais dentro da luta revolucionária. Lenin examina a teoria marxista do Estado, discute o papel do proletariado na revolução, analisa experiências históricas como a Comuna de Paris e critica os oportunistas que distorcem o marxismo. A leitura dessa obra oferece uma compreensão aprofundada desses temas essenciais para entender as teorias marxista-leninistas. Lenin expande e detalha a teoria marxista do Estado, oferecendo uma interpretação e aplicação prática das ideias de Marx e Engels. A leitura dessa obra é crucial para aqueles interessados em teoria política, filosofia e economia, pois proporciona uma base sólida para compreender as dinâmicas de poder e conflito de classes na sociedade moderna.

 A influência de "O Estado e a Revolução" se estende por várias gerações, impactando movimentos revolucionários, teóricos políticos e ativistas ao redor do mundo. Ler esta obra não só contribui para uma apreciação do seu valor histórico e teórico, mas também permite aos leitores engajar-se com ideias que continuam a influenciar debates políticos e teóricos contemporâneos.

Lutas de classes na Rússia de Karl Marx e Friedrich Engels

 



 O livro "Lutas de Classes na Rússia", de Karl Marx e Friedrich Engels, é uma obra que explora as particularidades das lutas sociais e políticas na Rússia do século XIX, Marx observou o processo pelo qual a Rússia se encontrava naquela época. O livro desafia a visão eurocêntrica e etapista do materialismo histórico, sugerindo uma perspectiva dialética que reconhece a possibilidade de revoluções sociais iniciarem na periferia do sistema capitalista. Através de uma série de textos, incluindo correspondências, Marx e Engels discutem as possibilidades de desenvolvimento socialista na Rússia, eles analisam as especificidades das formações sociais russas, destacando a comuna rural (mir) como uma forma de propriedade coletiva com potencial revolucionário. Argumentando que o desenvolvimento do capitalismo na Rússia poderia ser superado, permitindo uma transição direta para o socialismo, desafiando as ideias de que todos os países deveriam seguir o mesmo caminho histórico de desenvolvimento. 

A obra representa uma reflexão profunda sobre as possibilidades de transformação social e política, enfatizando a relevância do contexto histórico e cultural específico na trajetória revolucionária de cada país. Este livro é fundamental para compreender o pensamento marxista em relação às condições e possibilidades de revolução em contextos não ocidentais.

Dialética Revolucionária Contra a Ideologia Burguesa do Progresso

Karl Marx e Friedrich Engels reúne escritos sobre a Rússia entre 1875 e 1894. Estes textos representam uma ruptura significativa com interpretações unilineares, evolucionistas, etapistas e eurocêntricas do materialismo histórico. Marx e Engels propõem uma perspectiva dialética policêntrica, sugerindo a possibilidade de revoluções sociais modernas começarem na periferia do sistema capitalista, em contraste com o centro.

Inicialmente, Engels criticava a ideia de Piotr Tkatchov de um socialismo russo baseado em comunas rurais, argumentando que a Rússia não possuía condições para uma revolução socialista devido ao nível de desenvolvimento de suas forças produtivas. No entanto, Marx, influenciado por Engels, começa a superar esse ponto de vista a partir de 1877. Em uma carta ao periódico "Otechestvenye Zapiski", Marx rejeita a visão de que o desenvolvimento da Rússia deveria seguir o mesmo caminho do capitalismo ocidental. Os escritos subsequentes exploram a possibilidade de a Rússia evitar os horrores do capitalismo, com Marx argumentando que a comuna rural russa poderia ser a base para uma nova sociedade. Ele rejeita as concepções etapistas e a ideologia do progresso burguês, defendendo uma forma superior de coletivismo arcaico integrada às conquistas técnicas e culturais da modernidade.

Essa abordagem romântico-revolucionária é inspirada nos trabalhos sobre comunismo primitivo de historiadores e antropólogos como Georg Maurer e Lewis Morgan. Os documentos sugerem uma concepção da história divergente do "marxismo vulgar" predominante na Segunda Internacional. Os textos também preveem a possibilidade de transição ao socialismo em países "atrasados" da periferia do capitalismo. O curso real da história, como mostrado pela Revolução Russa e outros movimentos revolucionários do século XX, confirma essa hipótese, desafiando economicismo, eurocentrismo e evolucionismo progressista.

Carta à Redação da Otechestvenye Zapiski, 1877

Nesta seção foi uma resposta de Karl Marx a um artigo de Nicolai Constantinovitch Michailovski que, por sua vez, era uma defesa de Marx contra críticas feitas por Juli Galactionovitch Jukovski. Marx elaborou a carta após estudar extensivamente a situação econômica e social da Rússia, tendo inclusive aprendido russo para essa finalidade.

Marx critica a interpretação de Jukovski de sua teoria da "acumulação primitiva", argumentando que Jukovski teria distorcido suas ideias, aplicando-as de forma inadequada ao contexto russo. Marx esclarece que sua análise sobre a acumulação primitiva refere-se especificamente ao desenvolvimento do capitalismo na Europa Ocidental, a partir das condições feudais, e não deve ser generalizada para todos os contextos históricos. Ele também aborda a possibilidade de a Rússia seguir um caminho de desenvolvimento diferente do modelo capitalista ocidental, questionando a necessidade de destruir a comuna rural para adotar o capitalismo. Marx destaca a importância de considerar as condições históricas e sociais específicas da Rússia e sugere que, ao seguir o caminho iniciado após 1861, a Rússia perderia a oportunidade de evitar as adversidades do capitalismo.

A carta, embora não tenha sido publicada na época, ganhou atenção significativa posteriormente, sendo discutida e interpretada por diversos teóricos marxistas, incluindo Vladimir Lenin e Georgi Plekhanov, que a utilizaram em suas análises sobre a aplicação do marxismo na Rússia

 

 

 

Quais objeções podem ter os opositores da frente unida, e quais objeções eles expressam?

Alguns dizem: "Os comunistas utilizam o slogan da frente unida meramente como uma manobra." Mas, se este for o caso, respondemos, por que vocês não expõem essa "manobra comunista" por meio de sua participação honesta na frente unida? Declaramos francamente: Queremos a unidade de ação da classe trabalhadora para que o proletariado possa fortalecer-se em sua luta contra a burguesia, a fim de que, enquanto defende hoje seus interesses atuais contra o capital agressor, contra o fascismo, o proletariado possa alcançar amanhã uma posição para criar as condições preliminares para sua emancipação final.

"Os comunistas nos atacam", afirmam outros. Mas escutem, nós repetidamente declaramos: não atacaremos ninguém, seja indivíduos, organizações ou partidos, que defendam a frente unida da classe trabalhadora contra o inimigo de classe. Contudo, ao mesmo tempo, é nosso dever, em prol do proletariado e de sua causa, criticar aqueles indivíduos, organizações e partidos que impedem a unidade de ação dos trabalhadores.

"Não podemos formar uma frente unida com os comunistas, pois eles têm um programa diferente", diz um terceiro grupo. No entanto, vocês mesmos afirmam que seu programa difere dos programas dos partidos burgueses, e isso não os impediu, nem impede, de entrar em coalizões com esses partidos.

"As partes burguesas democráticas são aliadas melhores contra o fascismo do que os comunistas", afirmam os opositores da frente unida e os defensores da coalizão com a burguesia. Mas o que a experiência da Alemanha nos ensina? Os Social-Democratas não formaram um bloco com esses aliados "melhores"? E quais foram os resultados?

"Se estabelecermos uma frente unida com os comunistas, a pequena burguesia ficará assustada com o 'perigo vermelho' e desertará para os fascistas", ouvimos com frequência. Mas a frente unida representa uma ameaça aos camponeses, pequenos comerciantes, artesãos, intelectuais trabalhadores? Não, a frente unida é uma ameaça à grande burguesia, aos magnatas financeiros, aos junkers e outros exploradores, cujo regime leva à ruína completa todas essas camadas.

"A Social-Democracia é a favor da democracia, os comunistas são a favor da ditadura; portanto, não podemos formar uma frente unida com os comunistas", afirmam alguns líderes social-democratas. Mas estamos oferecendo agora uma frente unida com o propósito de proclamar a ditadura do proletariado? Não fazemos tal proposta agora.

"Deixe os comunistas reconhecerem a democracia, deixe-os sair em sua defesa; então estaremos prontos para uma frente unida." A isso respondemos: somos adeptos da democracia soviética, a democracia das pessoas trabalhadoras, a democracia mais consistente do mundo. Mas nos países capitalistas defendemos e continuaremos a defender cada centímetro das liberdades democráticas burguesas, que estão sendo atacadas pelo fascismo e pela reação burguesa, porque os interesses da luta de classes do proletariado assim o ditam.

"Mas podem os minúsculos Partidos Comunistas contribuir de alguma forma ao participar da frente unida promovida pelo Partido Trabalhista," dizem, por exemplo, os líderes trabalhistas da Grã-Bretanha. Lembre-se de como os líderes social-democratas austríacos disseram a mesma coisa em relação ao pequeno Partido Comunista Austríaco. E o que os eventos mostraram? Não foi o Partido Social-Democrata Austríaco liderado por Otto Bauer e Renner que se mostrou correto, mas o pequeno Partido Comunista Austríaco que sinalizou o perigo fascista na Áustria no momento certo e convocou os trabalhadores à luta. Toda a experiência do movimento trabalhista mostrou que os comunistas, apesar de sua relativa insignificância em números, são a força motriz da atividade combativa do proletariado. Além disso, não se deve esquecer que os Partidos Comunistas da Áustria ou da Grã-Bretanha não consistem apenas nos dezenas de milhares de trabalhadores que são adeptos do Partido, mas são partes do movimento comunista mundial, são Seções da Internacional Comunista, cujo Partido líder é o Partido de um proletariado que já alcançou a vitória e governa sobre um sexto do globo.

"Mas a frente unida não impediu o fascismo de ser vitorioso no Saar," é outra objeção levantada pelos opositores da frente unida. Estranha é a lógica desses senhores. Primeiro, fazem todo o possível para garantir a vitória do fascismo e, em seguida, se regozijam com malícia porque a frente unida, da qual participaram apenas no último momento, não levou à vitória dos trabalhadores.

"Se formássemos uma frente unida com os comunistas, teríamos que sair da coalizão, e partidos reacionários e fascistas entrariam no governo," dizem os líderes social-democratas que ocupam cargos em vários países. Muito bem. O Partido Social-Democrata Alemão não estava em um governo de coalizão? Estava. O Partido Social-Democrata Austríaco não estava no poder? Os socialistas espanhóis não estavam no mesmo governo que a burguesia? Estavam. A participação dos Partidos Social-Democratas nos governos de coalizão burgueses nesses países impediu o fascismo de atacar o proletariado? Não impediu. Consequentemente, é claro como a luz do dia que a participação de ministros social-democratas em governos burgueses não é uma barreira para o fascismo.

"Os comunistas agem como ditadores, querem nos impor e ditar tudo." Não. Nós não impomos nada e não ditamos nada. Apenas apresentamos nossas propostas, estando convencidos de que, se realizadas, atenderão aos interesses do povo trabalhador. Isso não é apenas um direito, mas um dever de todos aqueles que agem em nome dos trabalhadores. Você tem medo da 'ditadura' dos comunistas? Vamos apresentar em conjunto aos trabalhadores todas as propostas, tanto as suas quanto as nossas, discuti-las em conjunto com todos os trabalhadores e escolher aquelas que são mais úteis para a causa da classe trabalhadora.

Assim, todos esses argumentos contra uma frente unida não resistem à menor crítica. São, na verdade, as desculpas frágeis dos líderes reacionários da Social-Democracia, que preferem sua frente unida com a burguesia à frente unida do proletariado.

Não. Essas desculpas não se sustentarão. O proletariado internacional já experimentou o sofrimento causado pela divisão na classe trabalhadora e está cada vez mais convencido de que a frente unida, a unidade de ação do proletariado em escala nacional e internacional, é ao mesmo tempo necessária e perfeitamente possível.

 

Tradução parcial de: The Fascist Offensive and the Tasks of the Communist International in the Struggle of the Working Class against Fascism