O que os comunistas defendem?

Comunistas


Os comunistas não surgem como mais um partido entre os muitos que compõem o espectro da classe trabalhadora. Eles não defendem interesses particulares ou próprios, mas sim os interesses gerais de todos os trabalhadores. Não tentam impor nenhuma doutrina inventada ou teoria abstrata. Eles se guiam pela realidade concreta da luta de classes, por aquilo que já está acontecendo no mundo material.

O que os diferencia dos outros grupos é o fato de que, enquanto outros se perdem em questões locais ou nacionais, os comunistas olham para o quadro geral. Pensam de forma internacional, enxergam os pontos em comum da luta operária, estejam os trabalhadores na Alemanha, na França ou em qualquer outro lugar. E mais que isso, eles compreendem com profundidade o movimento histórico dessa luta entre capitalistas e trabalhadores. Têm uma clareza teórica que lhes permite ver os caminhos e os resultados dessa batalha.

O objetivo imediato dos comunistas não difere do objetivo de qualquer trabalhador consciente: organizar a classe operária, derrubar o poder da burguesia e conquistar o poder político para que os trabalhadores possam construir uma nova sociedade.

Mas o que fundamenta as ideias comunistas? São invenções?

Não. As ideias comunistas não foram criadas num gabinete por teóricos isolados do mundo. Elas são fruto da observação das relações reais da sociedade. São a expressão teórica do conflito entre exploradores e explorados, entre quem detém os meios de produção e quem só possui sua força de trabalho para sobreviver.

A abolição da propriedade privada burguesa, a base do comunismo, não é algo arbitrário. Trata-se de uma consequência lógica do próprio desenvolvimento histórico. A história sempre foi marcada por mudanças nas formas de propriedade. A Revolução Francesa, por exemplo, acabou com a propriedade feudal para dar lugar à propriedade burguesa. Agora, o passo seguinte é transformar essa propriedade burguesa em algo novo, que não dependa da exploração.

A propriedade privada é injusta? E a propriedade do pequeno trabalhador?

Quando os comunistas falam em abolir a propriedade privada, estão se referindo à propriedade burguesa. Aquela que se baseia na exploração do trabalho de outros. Não estamos falando da pequena propriedade do camponês ou do artesão, que já foi eliminada, pouco a pouco, pelo avanço da indústria.

E quando se trata do trabalhador assalariado moderno, a verdade é ainda mais crua: ele não é dono de nada. O que ele produz não gera para si uma propriedade real, mas sim para o patrão. Ele vive para sustentar o capital, não para viver com dignidade. A tal liberdade de “ganhar o próprio sustento” se resume a manter a máquina funcionando, máquina essa que pertence a outro.

E o capital? O que ele representa?

O capital não é apenas dinheiro ou propriedade. É um poder social, um produto coletivo, movimentado por muitas pessoas. Quando se diz que o capital deve ser transformado em propriedade coletiva, não se está falando em eliminar a propriedade pessoal no sentido de bens individuais, mas em retirar dela seu caráter de classe.

O capital hoje dá poder a poucos sobre o trabalho de muitos. O comunismo busca romper essa lógica: que o trabalho acumulado (ou seja, os bens, as máquinas, o conhecimento) sirva ao bem-estar de todos e não para enriquecer uns poucos.

Isso não seria uma forma de acabar com a liberdade?


A burguesia se apega a uma ideia de liberdade que está presa ao comércio e à propriedade. Mas essa liberdade é ilusória: ela só existe para quem tem capital. Para a maioria da população, liberdade significa apenas escolher entre diferentes formas de ser explorado.

Os comunistas querem abolir essa falsa liberdade. Não querem acabar com a individualidade, mas sim com a dominação de classe que a impede de florescer de verdade. Quando se diz que os comunistas querem acabar com a “liberdade”, o que está se dizendo é que querem acabar com a liberdade dos burgueses de explorar.

E quanto à cultura, à moral, à religião?

Todas essas ideias que nos parecem eternas, como moral, justiça, propriedade, religião, são, na verdade, produtos de uma sociedade específica. Elas nascem das condições materiais e dos interesses das classes dominantes de cada época.

A moral da sociedade atual é a moral burguesa. A cultura exaltada é a cultura da elite. A religião, muitas vezes, funciona como forma de justificar a submissão. O comunismo não elimina ideias por capricho, mas porque a nova sociedade que propõe exige uma nova forma de pensar, de sentir e de agir. As ideias dominantes de uma época são sempre as ideias da classe dominante. Quando essa classe cai, suas ideias também perdem o chão.

E a família? Os comunistas querem acabar com ela?

A crítica aqui é direta: a família burguesa, aquela baseada na propriedade e no poder do homem sobre a mulher e os filhos, não é sagrada nem natural. Ela só é possível porque existe a exploração. O trabalhador mal consegue sustentar a própria família, enquanto a burguesia transforma mulheres e crianças em instrumentos de lucro.

Os comunistas não querem destruir os laços afetivos. Querem, sim, acabar com o modelo de família baseado na desigualdade e na hipocrisia. Não são os comunistas que promovem a “comunidade de mulheres”, mas sim a própria sociedade burguesa, com sua prostituição oficial e oficiosa, com seus casamentos por interesse, com sua moral dupla.

E quanto à pátria, à nacionalidade?


Os trabalhadores não têm pátria. Eles não possuem nada que os prenda a uma nação, pois são explorados onde quer que estejam. O nacionalismo, na forma como é usado pela burguesia, serve apenas para dividir a classe trabalhadora e proteger os interesses do capital.

Os comunistas defendem a união internacional dos trabalhadores. Sabem que a exploração entre nações reflete a mesma lógica da exploração entre classes. Por isso, a libertação do proletariado só pode ocorrer se ultrapassar fronteiras.

Mas e as acusações filosóficas e morais contra o comunismo?

Muitos argumentam que o comunismo quer destruir valores eternos, como a justiça ou a liberdade. Mas a história mostra que esses valores sempre mudaram conforme as condições materiais de cada época.

A liberdade feudal não é a mesma da burguesia. O que hoje se chama de liberdade não será o mesmo numa sociedade futura. A ideia de que existem verdades imutáveis é parte do discurso das classes dominantes, que querem fazer parecer naturais suas próprias regras.

A revolução comunista rompe com essas ilusões, assim como rompe com as estruturas que as sustentam. É a ruptura mais profunda já proposta na história da humanidade, pois atinge não só a economia, mas também a forma de pensar.

O que fazer para transformar essa sociedade?

O primeiro passo da revolução comunista é simples: colocar o proletariado no poder. Isso significa que os trabalhadores organizados devem se tornar a classe dominante, usar esse poder para retirar gradualmente os meios de produção da burguesia e colocá-los nas mãos da coletividade.

Esse processo exige medidas firmes, que podem parecer duras ou utópicas à primeira vista, mas necessárias para mudar radicalmente o sistema:

Expropriar as terras e usar os lucros em benefício do povo.


Criar impostos progressivos para redistribuir riqueza.


Acabar com o direito de herança, que perpetua privilégios.


Confiscar os bens de quem se opõe violentamente à revolução.

Centralizar o sistema bancário nas mãos do Estado.

Controlar os transportes coletivos e infraestrutura.

Expandir fábricas e a produção de forma planejada.


Garantir trabalho para todos, inclusive com exércitos industriais agrícolas.

Unificar o campo e a cidade, superando desigualdades regionais.


Oferecer educação pública, gratuita e integrada ao trabalho.

E depois disso?


Com o tempo, essas medidas dissolverão as diferenças entre as classes sociais. O Estado, que hoje é o instrumento de dominação de uma classe sobre a outra, deixará de existir como tal. Quando não houver mais classes para oprimir, o poder político, como conhecemos, perderá sua razão de ser. No lugar dessa sociedade dividida e opressora, surgirá uma nova forma de convivência humana. Uma sociedade em que o desenvolvimento de cada indivíduo se tornará a base do progresso de todos. Onde a liberdade não será um privilégio, mas uma condição universal. 


Manifesto do Partido Comunista
Autores: Karl Marx e Friedrich Engels
Ano de publicação original: 1848
Fonte: https://www.marxists.org/portugues/marx/1848/ManifestoDoPartidoComunista/index.htm

         

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