Lutas de classes na Rússia de Karl Marx e Friedrich Engels

 



 O livro "Lutas de Classes na Rússia", de Karl Marx e Friedrich Engels, é uma obra que explora as particularidades das lutas sociais e políticas na Rússia do século XIX, Marx observou o processo pelo qual a Rússia se encontrava naquela época. O livro desafia a visão eurocêntrica e etapista do materialismo histórico, sugerindo uma perspectiva dialética que reconhece a possibilidade de revoluções sociais iniciarem na periferia do sistema capitalista. Através de uma série de textos, incluindo correspondências, Marx e Engels discutem as possibilidades de desenvolvimento socialista na Rússia, eles analisam as especificidades das formações sociais russas, destacando a comuna rural (mir) como uma forma de propriedade coletiva com potencial revolucionário. Argumentando que o desenvolvimento do capitalismo na Rússia poderia ser superado, permitindo uma transição direta para o socialismo, desafiando as ideias de que todos os países deveriam seguir o mesmo caminho histórico de desenvolvimento. 

A obra representa uma reflexão profunda sobre as possibilidades de transformação social e política, enfatizando a relevância do contexto histórico e cultural específico na trajetória revolucionária de cada país. Este livro é fundamental para compreender o pensamento marxista em relação às condições e possibilidades de revolução em contextos não ocidentais.

Dialética Revolucionária Contra a Ideologia Burguesa do Progresso

Karl Marx e Friedrich Engels reúne escritos sobre a Rússia entre 1875 e 1894. Estes textos representam uma ruptura significativa com interpretações unilineares, evolucionistas, etapistas e eurocêntricas do materialismo histórico. Marx e Engels propõem uma perspectiva dialética policêntrica, sugerindo a possibilidade de revoluções sociais modernas começarem na periferia do sistema capitalista, em contraste com o centro.

Inicialmente, Engels criticava a ideia de Piotr Tkatchov de um socialismo russo baseado em comunas rurais, argumentando que a Rússia não possuía condições para uma revolução socialista devido ao nível de desenvolvimento de suas forças produtivas. No entanto, Marx, influenciado por Engels, começa a superar esse ponto de vista a partir de 1877. Em uma carta ao periódico "Otechestvenye Zapiski", Marx rejeita a visão de que o desenvolvimento da Rússia deveria seguir o mesmo caminho do capitalismo ocidental. Os escritos subsequentes exploram a possibilidade de a Rússia evitar os horrores do capitalismo, com Marx argumentando que a comuna rural russa poderia ser a base para uma nova sociedade. Ele rejeita as concepções etapistas e a ideologia do progresso burguês, defendendo uma forma superior de coletivismo arcaico integrada às conquistas técnicas e culturais da modernidade.

Essa abordagem romântico-revolucionária é inspirada nos trabalhos sobre comunismo primitivo de historiadores e antropólogos como Georg Maurer e Lewis Morgan. Os documentos sugerem uma concepção da história divergente do "marxismo vulgar" predominante na Segunda Internacional. Os textos também preveem a possibilidade de transição ao socialismo em países "atrasados" da periferia do capitalismo. O curso real da história, como mostrado pela Revolução Russa e outros movimentos revolucionários do século XX, confirma essa hipótese, desafiando economicismo, eurocentrismo e evolucionismo progressista.

Carta à Redação da Otechestvenye Zapiski, 1877

Nesta seção foi uma resposta de Karl Marx a um artigo de Nicolai Constantinovitch Michailovski que, por sua vez, era uma defesa de Marx contra críticas feitas por Juli Galactionovitch Jukovski. Marx elaborou a carta após estudar extensivamente a situação econômica e social da Rússia, tendo inclusive aprendido russo para essa finalidade.

Marx critica a interpretação de Jukovski de sua teoria da "acumulação primitiva", argumentando que Jukovski teria distorcido suas ideias, aplicando-as de forma inadequada ao contexto russo. Marx esclarece que sua análise sobre a acumulação primitiva refere-se especificamente ao desenvolvimento do capitalismo na Europa Ocidental, a partir das condições feudais, e não deve ser generalizada para todos os contextos históricos. Ele também aborda a possibilidade de a Rússia seguir um caminho de desenvolvimento diferente do modelo capitalista ocidental, questionando a necessidade de destruir a comuna rural para adotar o capitalismo. Marx destaca a importância de considerar as condições históricas e sociais específicas da Rússia e sugere que, ao seguir o caminho iniciado após 1861, a Rússia perderia a oportunidade de evitar as adversidades do capitalismo.

A carta, embora não tenha sido publicada na época, ganhou atenção significativa posteriormente, sendo discutida e interpretada por diversos teóricos marxistas, incluindo Vladimir Lenin e Georgi Plekhanov, que a utilizaram em suas análises sobre a aplicação do marxismo na Rússia

 

 

 

This entry was posted . Bookmark the permalink.

Leave a Reply